Diáspora africana: Ana Mafalda Leite (Portugal/Mozambique, 1956). Traducción Maribel Roldán
La UNESCO adoptó en 2019, el 24 de enero como el Día Mundial de la Cultura Africana y de los Afrodescendientes, el cual celebra las numerosas y vibrantes culturas del continente africano y de las diásporas africanas en todo el mundo. Ante tal hecho, la revista Literaria Taller Igitur elabora la serie "Diáspora africana" a partir del título A Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua (2007). Es una antología de poesía portuguesa preparada por el poeta Amosse Mucavele (Maputo, Mozambique, 1987), de la cual extraemos a los poetas de África para la serie de poesía.
Ana Mafalda Leite (Portugal/Mozambique, 1956)
Traducción Maribel Roldán (Pueba, México, 1997)
Fronteras, de qué lado me pregunto
¿dónde empezó la frontera del día con la noche? ¿la frontera
del agua con la tierra? ¿del azul con el lila? ¿por qué tan dividido
el mundo en dos? en el tratado de tordesillas se condujo a
iberia al nuevo mundo y más tarde sentados en Berlín
muchos
otros diseñaron los mapas al compás y escuadra
un continente no interiormente navegado diría kurtz
señalando con el dedo al azar en caligrafías de colores o de tinta
china un corazón de las tinieblas mapa color rosa estilete grabado
en la mano los misterios arcos de décadas en bisectriz bailando el
bolígrafo en forma de bisel
¿de qué lado me pregunto nace el aroma del corazón? mi
índico pie punto de nudo lazada entredós azzurro azure me azula
el suelo
en sorbo de fuego mezclo en las volutas y me trenzo
en un subir de velas tal vez copra y curcuma el mapa publicado
destrozado en paños esbozantes me desafían las escuelas
de territorios en aguamarina lápiz lazuli cuarzo de luna
resplandor
quiero ser así repartida en mis guijarros esparcidos en
ríos de tierra y minerales calientes
carbón malaquita bauxita en llamas mi amor mi tierra
mi cama de deseo no me busques en las fronteras que no
tengo
¿de qué lado va el amor al anochecer? ¿donde está el?
me levanta y giro la raíz plantada exactamente en el intersticio de
una falla inaugural
una sábana me exilia o regocija el destino desbordado entre
muchos lugares las nubes y las aguas por eso cuestionan a veces
mis fronteras la marca de la diferencia que me
extraterrioraliza y me lanza al opuesto de las identidades
el forro por fuera la seda por dentro viene vestida de las
líneas de costura que bordean macanga marávia mutarara
chiúta zumbo moatize, furancungo zobué
en punto pié de roseta zigzag doble enlazamos en
cadena de raíz cuadrada nueves siempre pregunto a las matemáticas
sin resultado, ¿será que es indígena? ¿será que es alienígena? ¿será
que es?
como un ángel sobre todas las tierras, miro a este extraño
rostro de cabellos anaranjados en llamas entre muzimo y
valquiria
soy austral y soy oriente la vainilla de madagascar me exhala
lentamente muchos desiertos apetecibles estoy al oeste y me muerde
en la boca ¿un papiro de letra borrada alejandría? atravieso
por los cielos hacia el sur un cometa que pasa: año nyenyeza dices
¿cuándo fue? la luz irrumpe en múltiples lugares extraños
estoy en casa siempre
para descubrir que volando se fueron las golondrinas
posadas en cables eléctricos ondas invisibles
los postes de madera brotando hojas nuevas caligrafías
encriptadas
entonces en la arena dibujo rutas calles direcciones que no existen
busco las montañas sagradas de la angonia las piedras gigantes
que suben las escarpas dentro de otros mapas del útero todavía
más recónditos
sin embargo sentado me mira y se acurruca en la piel de
antílope el sonido de la tierra
¿de qué lado me mira el sol? ¿y la luna? por qué cantar así
pájaro de pico-pico el ibis negro cuando me ciega el brillo de
tus pulseras en tus muñecas
regalo en manos ahuecadas viene un cambio en el tiempo
alimentar el espíritu
dice tu boca que me habla a través de las piedras
Fenómenos de colores
por ejemplo, el arco de luz colorida
con el nombre de iris
nace de una refracción de la luz solar en las nubes o la niebla
que prisma los rayos solares
en éxtasis de siete tonos
y según la pendiente de la curvatura del arco
en escala musical
siete veces siete se
desdoblan
al iris del cielo
deslumbran
al infinito
en Libro de los azules
Fronteiras, de que lado pergunto-me
onde terá começado a fronteira do dia com a noite? a frontera
da água com a terra? a do azul com o lilás? porque tão dividido
o mundo em dois? no tratado de tordesilhas levou-se a
ibéria ao novo mundo e mais tarde sentados em berlim
muitos
outros desenharam os mapas a compasso e esquadro
um continente não interiormente navegado diziam kurtz
apontando o dedo ao acaso em caligrafias de cor ou a tinta
da china um coração das trevas mapa cor de rosa a estilete gravado
na mão os mistérios arcos de décadas em bissectriz dançando
a caneta em forma de bisel
de que lado pergunto-me nasce o aroma do coração? Meu
índico pé ponto de nó laçada entremeio azzurro azure azula-me
o chão
em haurir de fogo misturo-me nas volutas e entranço-me
num subir de velas talvez copra e curcuma o lançado mapa estilhaçado
em panos esvoaçante desafia-me as escolhas
de territórios em água marinha lápis lazúli quartzo de lua
resplendor
quero ser assim repartida em minhas pedrinhas espalhada em
rios de terra e minérios quentes
carvão bauxite malaquite em chama meu amor minha terra
meu leito de desejo não me procures nas fronteiras que não
tenho
de que lado se põe o amor ao entardecer? onde me deita ele?
levanta-me e torno raiz plantada exactamente no interstício de
uma falha inaugural
um lençol me exila ou exulta o destino transbordo entre
muitos lugares nuvens e águas por isso questionam por vezes
as minhas fronteiras a marca da diferença que me
extraterrioraliza e me lança ao avesso das identidades
o forro por fora a seda por dentro vim vestida aos
avessos das
linhas de costura que fronteirizam macanga marávia mutarara
chiúta zumbo moatize, furancungo zobué
em ponto pé de roseta ziguezague em
duplo nós elos em cadeia raiz quadrada noves fora sempre indago a matemática
sem resultado será que é indígena? será que é alienígena? Será
que é?
qual anjo sobranceiro a todas as terras, espreito esse estranho
rosto de cabelos alaranjados em fogo entre muzimo e
valquiria
sou austral e sou oriente a baunilha de madagáscar exala-me
devagar muitos desertos apetecíveis sou ocidente e morde-me
na boca um papiro de apagada escrita alexandria? Atravesso
me nos céus a sul um cometa que passa: ano nyenyeza dizes
me foi quando? a luz irrompe em múltiplos lugares estranhos
estou em casa sempre
a descobrir que voando se foram as andorinhas
pousadas nos fios de eléctricas ondas invisíveis
os postes de madeira brotando folhas novas caligrafías
encriptadas
por isso na areia desenho rotas ruas endereços que não existem
procuro as montanhas sagradas da angónia as pedras gigantes
que sobem as escarpas do interior de outros mapas úteros ainda
mais recónditos
no entanto sentado ele olha-me e aconchega na pele de
antílope o som da terra
de que lado me olha o sol? e a lua? porque canta assim
o pássaro bique-bique a íbis preta quando me cega o brilho das
tuas pulseiras nos pulsos
dádiva nas mãos em concha vem uma mudança no tempo
alimentar o espírito
diz a sua boca nhau que me fala através das pedras
Fenómenos das cores
por exemplo o arco da luz colorida
com o nome de íris
nasce de uma refracção da luz do sol nas nuvens ou na névoa
que prismam os raios solares
em extâse de sete tons
e conforme a inclinação da curvatura do arco
em escala de música
sete vezes sete se
desdobram
a íris do céu
deslumbram
ao infinito
in Livro dos Azuis
Ana Mafalda Leite nasceu em 1956, em Portugal e com alguns meses de vida foi para Moçambique (Tete-Moatize), onde viveu até aos dezoito anos, tendo feito parte dos estudos universitários em Maputo, na Universidade Eduardo Mondlane. Literariamente vincula-se ao país onde cresceu, com o qual mantém uma relação de pertença afectiva, bem como apaixonada intervenção criativa e crítica. É professora na Universidade de Lisboa e especializou-se em Literaturas Africanas, desenvolvendo atividade de pesquisa e de docência em várias universidades de língua portuguesa e estrangeiras. Publicou os ensaios: A Poética de José Craveirinha (1990), Oralidades & escritas nas literaturas africanas (1998) e Literaturas africanas e formulações pós-coloniais (2003). Poesia: Em Sombra Acesa (1984), Canções de Alba (1989), Mariscando Luas (em colaboração com o pintor Roberto Chichorro e com o poeta Luís Carlos Patraquim, 1992), Rosas da China (1999), Passaporte do Coração (2002), Livro das Encantações (2005), O Amor essa forma de desconhecimento (2010).
Maribel Sánchez Roldán. (1997, Puebla). Se ha iniciado en la literatura, traducción y enseñanza de las lenguas a edad temprana, lo que llevó a su primera publicación y colaboración poética en “Causalidades: Antología de poesía poblana” (2013) y posteriormente en “Antología viva de la poesía volcánica” (2018). Ha participado a su vez en proyectos literarios nacionales e internacionales, tales como las revistas de difusión poética “Arroba Textos” (2012) “Fractalario” (2015) “Página en Blanco” (2017), “Círculo de Poesía” (2018), “Prosa” (Colombia, 2018) y traducido para las editoriales “Visor” (México, 2018) y “Electrón Libre” (Marruecos, 2018). Entusiasta de la filosofía, el arte, la guitarra, el canto y el dibujo. Actualmente, directora y docente en “Etymos” Estudio de Lenguas Extranjeras.
Amosse Mucavele (Maputo, Moçambique, 1987) onde vive. Poeta e jornalista cultural, coordenador do projeto de divulgação literária “Esculpindo a Palavra com a Língua”, foi chefe de redação de “Literatas – Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona”, diretor editorial do Jornal O Telégrafo, Editor Chefe do Jornal Cultural Debate, Editor de Cultura no Jornal ExpressoMoz, Colaborador do Jornal Cultura de Angola e Palavra Comum da Galiza – Espanha. É membro do Conselho Editorial da Revista Mallarmargens (Brasil), da Academia de Letras de Teófilo Otoni (Brasil) e da Internacional Writers Association (Ohio – USA). Representou Moçambique na Bienal de Poesia da Língua Portuguesa em Luanda (2012), nas Raias Poéticas, Vila Nova de Famalicão (2013), no Festival Internacional de Poesia de Córdoba (2016) e em 2017 participou numa série de atividades em Portugal, nomeadamente: IV Festival Literário da Gardunha, no Fundão; VI Encontro de Escritores Lusófonos no âmbito da Bienal de Culturas Lusófonas, Odivelas; Conversa sobre a poesia moçambicana, no Centro Intercultura Cidade, Lisboa; Palestra na Universidade de Lisboa, entre outras. Com textos publicados em diversos jornais do mundo lusófono, publicou os livros: “A Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua – Antologia Poética”, Revista Literatas, 2013 (coordenação) e “Geografia do Olhar: Ensaio Fotográfico Sobre a Cidade” (editora Vento de Fondo, Córdoba, Argentina, 2016), livro premiado como Livro do Ano do Festival Internacional de Poesia de Córdoba; no Brasil (Dulcineia Catadora Edições, Rio do Janeiro, 2016); em Moçambique (Cavalo do Mar, Maputo, 2017).